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Blog da aluna Cátia Marcelino da Escola EB 2,3/S de Ourique...

segunda-feira, junho 05, 2006

Gil Vicente, o Maior Dramaturgo Português


Biografia:

É difícil estabelecer com rigor a biografia de Gil Vicente:

1502- Saúda com o Auto do Vaqueiro D.Maria, mulher de D.Manuel, pelo nascimento de D.João III.

1506- Acaba a custódia de Belém.

1509- É vedor das obras de ouriversaria de Tomar, Belém e do Hospital de Todos-os-Santos.

1511- É nomeado vassalo D’el-rei.

1512- Pertence à casa dos Vinte e Quatro.

1513- É eleito mestre da Balança na casa da Moeda.

1520- Dirige os festejos em honra de D.Leonor.

1531- Defende os cristãos-novos.

1536- É a data mais provável da sua morte, pois deixa de produzir qualquer obra e ninguém fala dele.




Gil Vicente (c.1465 – c.1537) foi um poeta de origem popular.
Colaborou na colectânea de poesia palaciana das cortes de D.João II e de D.Manuel, organizou festas da corte, escreveu para nascimentos, esponsais, despedidas e outras celebrações palacianas e representações teatrais.
Gil Vicente é o maior autor dramático português, homem de teatro na sua mais íntima fibra.

O teatro vicentino, criado a partir de uma tradição folclórica, de representações eclesiásticas, de espectáculos mudos de corte e, provavelmente da influência de Juan del Encina, poeta da corte castelhana; é uma criação muito livre, fora de qualquer padrão pré-existente.
Nele podemos distinguir autos pastoriais, moralidades, autos narrativos, simples e representações alegóricas profanas. Em muitos casos, estes diversos géneros misturam-se na mesma peça.



Gil Vicente é versátil nas suas manifestações: se, por um lado, parece ser uma alma rebelde, temerária, impiedosa no que toca em demonstrar os vícios dos outros, quase da mesma forma que se esperaria de um inconsciente e tolo bobo da corte, por outro lado, mostra-se dócil, humano e ternurento na sua poesia de cariz religioso e quando se trata de defender aqueles a quem a sociedade maltrata.
O seu lirismo religioso, da raiz medieval e que demonstra influências das Cantigas de Santa Maria está bem presente.

A obra de Gil Vicente transmite uma visão do mundo que se assemelha e se posiciona como uma perspectiva pessoal do Platonismo: existem dois mundos – o Mundo Primeiro, da serenidade e do amor divino, que leva à paz interior, ao sossego e a uma “resplandecente glória”, como dá conta sua carta a D.JoãoIII; e o Mundo Segundo, aquele que retrata nas suas farsas: um mundo “todo ele falso”, cheio de “canseiras”, de desordem sem remédio, “sem firmeza certa”. Estes dois mundos reflectem-se em diversos temas das suas obras.



A crítica social vicentina tanto visa tipos populares como tipos das “classes médias” e da aristocracia. É uma atitude em sincronia evidente com o sentimento popular que se traduz no folclore.
A presença da poesia popular e tradicional em Gil Vicente é particularmente poderosa, e através dele penetramos no subsolo cultural, e em especial poético, não só da nacionalidade portuguesa, mas da Península Ibérica.
Um aspecto da obra vicentina que não tem sido suficientemente relevado é o da expressão dramática das forças e formas da natureza.

Os autos religiosos, ou “moralidades”, de Gil Vicente, cujo tema central é o mistério da encarnação, estão na origem dos “autos sacramentais”.
Gil Vicente era um cristão pré-tridentino. É daí que resulta a sua liberdade em relação à matéria religiosa.
Gil Vicente era um contemporâneo não só de Erasmo, mas também de Lutero e, como eles, um crítico da instituição eclesiástica, com referência ao espírito primitivo da Igreja.

Gil Vicente criou a Custódia de Belém:uma peça feita de 500 moedas de ouro puro proveniente de África, esmaltes e vidros, que data do século XVI.
A Custódia de Belém apresenta linhas características do estilo gótico.
Era utilizada para guardar hóstias.
No topo desta peça podemos encontrar uma figura sentada num trono que representa Deus Pai e no rosto destacam-se os traços envelhecidos - simbolizam a sabedoria e a experiência.
Mais ao centro, rodeando o recipiente de vidro onde se encontram as hóstias, vêem-se os doze apóstolos.
Em baixo podemos observar as esferas armilares, símbolo de D. Manuel I. .
Na base encontram-se figuras de animais, que podemos identificar graças ao pormenor e aos diferentes tons evidenciados.
Por fim, podemos observar uma pomba correio que simboliza o divino Espírito Santo.

O teatro era, para Gil Vicente, a imagem da vida e a corte portuguesa, o palco movimentado onde se reflectiam as quimeras e desilusões de uma sociedade em permanente mudança.
Gil Vicente fez desfilar nas suas farsas tipos sociais da época: o clérigo, que em vez de praticar a austeridade e a renúncia, buscava a riqueza e os prazeres; o fidalgo, pelintra e fanfarrão; o escudeiro, espécie de parasita ocioso e vadio; o magistrado, homem corrupto e espoliador do povo.
O teatro português não nasceu com Gil Vicente, antes de 1502, ano da primeira representação do “Auto do Vaqueiro” ou “Auto da Visitação”, nos aposentos da rainha, já existiam manifestações teatrais.
Depois da edição de 1586, desastrosamente mutilada pela censura inquisitorial, Gil Vicente foi esquecido pelo público letrado, embora o seu nome continuasse a ser mencionado como o de um antepassado mítico.
A sua ressurreição para a leitura deve-se ao movimento romântico (edição de Hamburgo de 1534).
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Obras:
Auto do Vaqueiro ou Auto da Visitação (1502).
Auto Pastoril Castelhano (1502)
Auto dos Reis Magos (1503)
Auto de São Martinho (1504)
Quem tem Farelos? (1505)
Auto da Alma (1508)
Auto da Índia (1509)
Auto da Fé (1510)
O Velho da Horta (1512)
Exortação da Guerra (1513)
Comédia do Viúvo (1514)
Auto da Fama (1516)
Auto da Barca do Inferno (1517)
Auto da Barca do Purgatório (1518)
Auto da Barca da Glória (1519)
Cortes de Júpiter (1521)
Comédia de Rubena (1521)
Farsa de Inês Pereira (1523)
Auto Pastoril Português (1523)
Frágua de Amor (1524)
Farsa do Juiz da Beira (1525)
Farsa do Templo de Apolo (1526)
Auto da Nau de Amores (1527)
Auto da História de Deus (1527)
Tragicomédia Pastoril da Serra da Estrela (1527)
Farsa dos Almocreves (1527)
Auto da Feira (1528)
Farsa do Clérigo da Beira (1529)
Auto do Triunfo do Inverno (1529)
Auto da Lusitânia, Intercalado com o Entremez Todo-o-Mundo e Ninguém (1532)
Auto de Amadis de Gaula (1533)
Romagem de Agravos (1533)
Auto da Cananea (1534)
Auto de Mofina Mendes (1534)
Floresta de Enganos (1536)
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Bibliografia:

Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura, Vol. 18, Editorial Verbo, Lisboa.

Dicionário de Literatura, (dir. Jacinto Do Prado Coelho), Academia das Ciências e da Faculdade de Letras de Lisboa, Vol.4, 3ª edição, suplemento S/L, Porto Editora.

Serrão, Joaquim Veríssimo, História de Portugal, Vol.III, Editorial Verbo, 1450-1580.

Barreto, António, Mónica, Maria Filomena, Dicionário da História de Portugal, Vol.X, suplemento P/Z.

Couto, Célia Pinto do, Rosas, Maria Antónia Monterroso, O Tempo da História, Manual de História A, 3ª parte, 10º ano, VolumeIII, Porto Editora.
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